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Cantinho da Déa: Para ter 'olhar de professora', secretária de Educação continua dando aula em TO
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Para ter 'olhar de professora', secretária de Educação continua dando aula em TO
Cidade de Augustinópolis serve
biscoito com suco na merenda por causa de baixo valor recebido do
governo federal para alimentação
Renan Truffi- enviado a Mata de São João (BA) |
- Atualizada às
Professora há pelo menos 14 anos, Karla Santana,
secretária de Educação de Augustinópolis (TO), cidade localizada a 720
km da capital Palmas, é daquelas profissionais que costuma dizer que
“nasceu para dar aula”. Ela recebeu o convite para gerenciar a pasta no
fim do ano passado, quando era diretora de um colégio da rede estadual.
Teve que deixar o posto, mas decidiu que não iria se afastar do ambiente
de ensino. Hoje ela é uma das poucas secretárias de Educação do Brasil
que também atua como professora. Para conciliar as duas ocupações, dá
aula no período noturno para estudantes do 1º, 2º e 3º ano do ensino
médio do Estado. Leia também: No Acre, professor dá aula ao mesmo tempo para 1ª a 5ª série e serve merenda
Renan Truffi
Secretária de educação de Augustinópolis, Karla Santana
“Já dei aula para fundamental, médio e superior. Passei
por todas as fases do processo educacional. Eu gosto de dar aula, nasci
pra ser professora. É interessante quando você pega uma criança que não
sabe ler e meses depois vê a mudança. É bom demais. Você se sente
gratificada, é como se fosse um passe de mágica. Não é, mas você sente
assim”, explica depois de participar do 14º Fórum Nacional de Dirigentes Municipais de Educação
, em Mata de São João, na Bahia.
Ela admite, no entanto, que a dupla função não tem sido
tão boa para seus alunos. Por causa do cargo, já teve que se ausentar
das salas de aula por quase dez dias de janeiro até agora. Ainda assim,
quer continuar em contato com o ambiente escolar e tenta, junto ao
Estado, mudar de cargo para ser orientadora ou trabalhar na biblioteca
mesmo. Ela afirma que a escolha não tem nada a ver com dinheiro.
“Estou ganhando agora o mesmo que recebia quando era
diretora. Inicialmente nós tentamos (mudar o cargo de professora), mas
estou no período probatório. Ingressei na rede estadual há pouco tempo.
De acordo com a legalidade são três anos para eu pedir licença. Então,
como estou sendo avaliada, ficou um pouco mais complicado ainda. Mas o
Estado já sinalizou positivamente. Eu sei que posso contribuir no ensino
noturno. Não necessariamente estando em sala de aula. Eu sinto que
estou prejudicando os alunos. Mas, não quero ficar muito tempo afastada
ou do convívio da Educação em si. Você acaba tendo só uma visão e
esquece de olhar como professora. Sei que meu destino e voltar pra sala
de aula”, argumenta. Merenda precária
Karla diz confiar em sua experiência como professora para
gastar da melhor maneira possível a “pouca” verba que tem, sem saber
dizer ainda, no entanto, quanto dispõe mensalmente. É que, com 14
escolas para cuidar em uma cidade de aproximadamente 16 mil habitantes,
ela tem tirado dinheiro do Fundo de Participação dos Municípios (FPM)
para conseguir cobrir, por exemplo, os gastos com salário
dos professores. Apesar de fazer parte da categoria, a secretária diz
que o valor é muito acima do normal até mesmo para municípios mais ricos
que Augustinópolis.
“Recebemos R$ 302 mil do Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica) para pagamento de professor, compra e
aquisição de materiais. Mas tivemos que pegar mais R$ 70 mil do FPM no
mês passado para poder cobrir folha de pagamento. Já estou devendo R$
202 mil. Atualmente os salários dos professores está muito acima do
piso. Muito acima. Entre R$ 1.525 e R$ 1.700. Na rede temos 60
profissionais da Educação. Não estou querendo dizer que o professor tem
que ganhar
pouco, mas está alto para a arrecadação do município. Lá eles são
concursados para 30 horas. Em outras cidades como a nossa, os
professores com 30 horas recebem R$ 1.200. Está acima do piso e acima do
reajuste”, conta ao dizer que o aumento foi concedido na gestão
anterior.
Karla argumenta que, apesar dessas condições para os
professores, não sobra dinheiro para melhorar a merenda em
Augustinópolis. Ela reclama que recebe apenas R$ 0,30 centavos do
governo federal por aluno. Ainda que o município coloque uma contra
partida é preciso fazer “mágica”.
“Se o valor da merenda aumentasse. Eu poderia melhorar o
cardápio. O governo federal diz que temos que mandar suco e leite in
natura, mas eu mando em pó porque só tenho um caminhão para fazer a
distribuição e esses alimentos estragam até chegar nas escolas da zona
rural. A merenda fica empobrecida. Tem dia que tenho que colocar
biscoito com suco no cardápio para garantir pelo menos merenda todos os
dias. Não dá para colocar arroz todo dia, sopa todo dia. Então biscoito
com achocolatado, por exemplo, tem que entrar no cardápio de três a
quatro vezes por mês. E tem aluno que, a gente sabe, vai na escola para
poder comer. Tanto nas redes estaduais quanto nas municipais nós fazemos
mágica. Transformar R$ 0,30 centavos em galinhada é mágica.”
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