xmlns:og='http://ogp.me/ns#' Cantinho da Déa: Leonardo Da Vinci em Bogotá – Parte 2

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Leonardo Da Vinci em Bogotá – Parte 2

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Por Marcelo Coelho.
No artigo anterior, iniciei uma reflexão sobre a dualidade entre especialização versus criatividade.
O insight para esta reflexão surgiu durante uma visita à exposição Da Vinci El Genio,  na cidade de Bogotá, capital da Colômbia. A exposição apresentou ao público diferentes ofícios que foram exercidos de forma extraordinária por Leonardo Da Vinci: inventor, filósofo, pintor, cientista, engenheiro, escultor, anatomista, biólogo, músico e arquiteto. No intuito de ilustrar as suas produções, foram expostos estudos, rascunhos, cartas, desenhos e mais de 160 peças.
A pluralidade do conhecimento de Da Vinci, sua gigantesca sensibilidade artística e a incomparável habilidade de interligar os mais distintos eventos da natureza e do cotidiano do homem me fizeram refletir sobre o impacto das especializações no processo criativo individual.
Argumentei sobre a importância do pensamento específico quando se planeja realizar ou materializar a imaginação criativa – ‘(…) o filósofo lida com o pensamento reflexivo, o músico com sons, o arquiteto com a perspectiva, o médico com o corpo humano, o pedreiro com a construção civil, e assim por diante.’
Continuei o texto afirmando que:
“(…) a especificidade, primordial para a ampliação das possibilidades de realização do imaginar criativo, não deve ser confundida com especialização. Esta última tende, na grande maioria das vezes, a segmentar e engessar a capacidade de observação e a imaginação criativa – um pintor desenvolve a sua criação a partir de uma perspectiva observada, real ou imaginária. Ele não se baseia exclusivamente na textura da tela ou na pigmentação da tinta. Se assim fosse, este pintor seria então um especialista em telas e tintas, e a expressão do seu trabalho não causaria uma experiência estética quando apreciada.”
Concluí o artigo com a seguinte pergunta:
“Mas quais são as razões pelas quais tanto os artistas quanto os cientistas tornam-se grandes criadores à medida que se aprofundam e se especializam no seu trabalho?”
Vivemos em uma sociedade em que as especializações tornaram-se sinônimo de preparo profissional. No entanto, o conhecimento adquirido nos cursos e estágios direcionados para este tipo de aprimoramento parece não contribuir para o aumento da capacidade reflexiva e criativa. De modo geral, restringem-se a um adestramento técnico que visa soluções imediatas, ignorando, desta forma, a sensibilidade, espontaneidade e a criatividade individual.
A criatividade surge do interesse pela diversidade, pela probabilidade de resultados distintos mas não necessariamente contraditórios, pela observação das relações entre os diversos elementos envolvidos, pela percepção do cenário como um todo, pela interdisciplinaridade do conhecimento.
O indivíduo, independente da área em que atua, pode ser tão especialista quanto criativo se for capaz de observar o entorno que está para além do olhar específico. A especialização, neste caso, pressupõe a ampliação do conhecimento, uma vez que traz consigo a consciência dos elementos ao redor, responsáveis pela sua delimitação. É desta forma que os artistas, os cientistas e tantos outros profissionais trabalham.
A afirmação equivocada de que a criatividade é um atributo das artes constitui, na verdade, uma maneira de encobrir a precariedade de condições criativas no ambiente de trabalho em diversas áreas do conhecimento.
A criatividade é inerente ao ser humano. Cabe a cada um perceber o mundo ao redor, observá-lo criativamente e recriá-lo. O conhecimento virá desta experiência.
Parafraseando Da Vinci, “Todo conhecimento nosso origina-se em nossas percepções.”
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.

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